Formado em Física pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo, hoje professor da Universidade Federal do ABC, o professor Daniel fez mestrado e doutorado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares, e pós-doutorado no Instituto de Química da UNESP em Araraquara.
Atualmente ele trabalha na área de Ciência dos Materiais com ênfase em dispositivos sensores. Além disso, é também pró-reitor adjunto de pós graduação da Universidade Federal do ABC, em Santo André.
Aprender Ciência: Prof. Daniel, por favor conte para os leitores do Aprender Ciência um pouco de sua trajetória de formação e as razões que o levaram a se tornar cientista. Prof Daniel: Sempre fui um entusiasta da ciência e gosto muito de me sentir desafiado intelectualmente. Acredito que essa característica me levou à ciência. Ingressei no Instituto de Física da USP em 1990. Durante o primeiro ano lecionei para o colegial, atual ensino médio e já no segundo ano da faculdade comecei a fazer iniciação científica no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Durante o doutorado, passei aproximadamente um ano na Università degli Studi di Roma “Tor Vergata” fazendo o que chamamos de Doutorado Sanduíche. Após o doutorado fiz dois anos e alguns meses de Pós-Doutorado no Instituto de Química da UNESP – Araraquara quando então ingressei como professor na recém criada Universidade Federal do ABC (UFABC).
Aprender Ciência: Também gostaríamos de saber alguma coisa sobre as pesquisas científicas que você já realizou e está realizando.
Prof Daniel: Atuo, desde a graduação, na área de Ciências de Materiais que é uma área bastante interdisciplinar envolvendo conhecimentos de Física, Química e Engenharias. Comecei meus estudos em cerâmicas avançadas, mais especificamente em sensores de oxigênio, utilizados em siderúrgicas, em tratamentos térmicos e em motores a combustão. Nos automóveis esses sensores informam à injeção eletrônica qual o teor de oxigênio nos gases de escape, com essa informação a injeção eletrônica pode otimizar a razão ar e combustível no motor. Esse controle, da razão ar e combustível, é importante pois além de melhorar o rendimento do motor, diminui a emissão de gases poluentes pelos automóveis. Durante o doutorado continuei a me dedicar aos materiais cerâmicos e na Itália comecei meus estudos em células a combustível. Esses dispositivos geram energia através de reações eletroquímicas e o resíduo dessa geração é água. Por isso se costuma dizer que energia gerada por células a combustível é “limpa”. Eu prefiro dizer que a geração de energia por células a combustível é sustentável do ponto de vista ambienta. Creio que uma boa síntese da minha carreira, até o momento, é sempre ter tentado trabalhar com ciência aplicada na solução de problemas que afligem a sociedade.
Aprender Ciência: Como você encara o papel da ciência na sociedade (o papel que ela tem ou deveria ter)? Vê alguma relação entre ciência, tecnologia e desenvolvimento?
Prof Daniel: A relação entre ciência, tecnologia e desenvolvimento é total! Indo um pouco mais a fundo, não existe tecnologia e desenvolvimento sem ciência. O restante da pergunta, creio que já respondi anteriormente, ou seja, acredito que a ciência deve ser utilizada na solução de problemas que afligem a sociedade. É claro que as ciências básicas, teóricas, também são extremamente importantes, porém, penso que estamos em um momento, no contexto mundial, muito oportuno para as ciências experimentais.
Aprender Ciência: Uma pergunta freqüente por parte de crianças e jovens, sobre a qual gostaríamos de ouvi-lo: por que aprender ciência na escola?
Prof Daniel: Ora, as crianças e jovens devem aprender ciência na escola, por muitos motivos. Até para ser um bom cidadão você deve conhecer um pouco de ciência. Para ser um bom consumidor, para usar bem o seu próprio dinheiro, você precisa conhecer ciência. Por exemplo, se você quer comprar um bom aparelho de som você tem de saber qual a diferença entre Watt e Watt RMS.
Aprender Ciência: Em sua opinião, quais são os grandes desafios científicos atuais e das próximas décadas? (problemas em aberto, áreas promissoras...)
Prof Daniel: Acredito que a biologia está para o século XXI assim como a Física esteve para o século XX, ou seja, a grande área das biológicas está em franca expansão e nos trazendo muito conhecimento, sobre temas que até pouco, eram obscuros. Outras áreas de importância para as próximas décadas são: energia, materiais, a nanotecnologia e nanociências, incluindo aí nanomateriais e biomateriais.
Esta entrevista foi cedida pelo Prof. Dr. Daniel Zanetti de Florio via e-mail à Profa Dra Patricia Targon Campana |
